vivemos num mundo sem eco.
numa sala onde o som da nossa voz não se desloca.
onde as palavras ficam à porta da boca com medo de sair.
onde todos falam e ninguém se ouve.
destinados a guardar pensamentos.
domingo, 12 de agosto de 2012
tempos de espera
não consigo esperar por ti
os segundos são lâminas afiadas
o coração entra em ebulição
faço de conta que não estás para chegar
olho o meu reflexo no vidro
conto as vezes que já esmaguei relógios
os ponteiros espalhados
os mecanismos desfeitos
(...)
e tu sem chegar
a razão do silêncio
soltaste uma gargalhada
todos se calaram
quais os pensamentos que os percorrem? pensas.
retomas a posição original
olhas o silêncio e a conversa continua
tu não
ficas parado nesse instante
percorres teias de razões
sem encontrar uma que te salve
estás exposto
um momento pode ser eterno
tal como o segundo que leva a mosca a cair na teia
não tiveste tempo para dizer adeus
e quanto mais te moves mais te denuncias
pouco a pouco
desponta o sol quando o frio insiste em me perseguir.
começa pela ponta dos dedos dos pés e invade-me o corpo
pouco a pouco
sinto o frio a percorrer-me os braços
a chegar onde nunca poderão chegar as tuas mãos
deixo-me ficar por aqui estendido
percorrido pela ausência
entorpecido
não tenho forças para derramar lágrimas
o frio leva tudo
a vontade de amar
a vontade de sonhar
dedico-me à solidão
à solidão das palavras escritas
viver impede-nos de sonhar
e este frio impede-me de viver
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