terça-feira, 7 de dezembro de 2010

A viagem

Carlos verificou o ponteiro da gasolina.
Os dias estão cada vez mais curtos.
Decide apontar o carro em direcção ao posto de abastecimento mais próximo. Uma paragem depois de duas horas de viagem. O sono já pesa e a noite torna a auto-estrada monótona.
Seis da manhã.
Para trás fica a noite.
Neste sentido o sol ficou laranja, preparando o dia para o calor.
A rádio ilumina-se.
Espera-se que as temperaturas atinjam os 39º no interior…
O pé desce e o ponteiro sobe.
A recta é longa e o sol já começa a arder em direcção ao asfalto. É preciso parar.
Para dominar o medo da próxima hora, puxa de um cigarro, abre a janela e assobia.
I’ve got you under my skin.
Vem-lhe à cabeça o sorriso estúpido da quarentona de cabelo armado em forma de algodão-doce. Os olhos abertos. A adorar.
Só quando lhe espetou a chave de fendas no recto e lhe desfez a mama com um alicate é que ela realmente gritou de prazer. Até ali parecia uma boneca insuflável, sempre com a mesma repugnante expressão de quem está disposta a tudo.
O que custa mais é tocar-lhes.
Detesto tocar-lhes no rosto ou nas nádegas.
Que calor.
Gosto de sentir a carne dos seios a rasgar. O som é indescritível.
A estação de serviço estava deserta. Mal saiu do carro reparou que o sol já estava alto. É um prazer respirar o cheiro quente da gasolina.
Desde pequeno que sentia um prazer irresistível em encher uma seringa de gasolina e injectá-la nas galinhas da vizinha. Morriam em poucas horas, depois de correrem o galinheiro aos saltos. A vizinha ficava estarrecida ao ver as galinhas saltar dois metros no ar e caírem redondas no chão, desamparadas. Pensava que era bruxaria e não se atrevia a comê-las. Queimava-as por trás do muro do quintal, na sucata, entre as carcaças ferrugentas dos automóveis e o emaranhado selvagem das silvas.
Também não gosto das suas barrigas salientes, redondas e moles.
Quando a pontapeou na barriga, ela soltou um grito abafado que mais parecia um vómito.
Tudo nelas é apenas gordura, dentes podres, pus e estupidez.
Decidiu tomar um café. A viagem ainda ia ser longa e assim passava uma vista de olhos pelo jornal.
Nada!
Talvez ainda não a tivessem encontrado.